Assimetria craniana em bebês: quando se preocupar e como tratar

Perceber que o formato da cabecinha do bebê está diferente pode gerar muitas dúvidas. Será que é normal? Precisa de tratamento? Vai afetar o desenvolvimento? Se você está passando por isso, saiba que você não está sozinho(a) e que há muitas soluções para o seu bebê.

Você sabia que 20% a 30% dos bebês desenvolvam algum grau de assimetria craniana? Sendo assim, é considerada uma alteração comum, sendo mais frequente entre o segundo e o quarto mês de vida do bebê, e pode ter várias causas. Na maioria dos casos, ela está associada a outras questões, como o torcicolo congênito e tensões corporais que limitam o movimento do bebê e que precisam ser avaliadas e tratadas em conjunto.

Mas não se preocupe: com uma abordagem correta, empática e baseada em evidências, é possível melhorar, e em muitos casos corrigir completamente a assimetria, devolvendo conforto e liberdade para o desenvolvimento do seu bebê.

Neste artigo, você vai entender o que causa a assimetria craniana, como identificar os sinais e quais os tratamentos ideais.

O que é assimetria craniana e por que ela acontece?

A assimetria craniana ocorre quando o formato do crânio do bebê se desenvolve de forma irregular, fazendo com que uma região da cabeça fique mais achatada ou com a curvatura alterada. Geralmente não percebemos esse desalinhamento logo no nascimento, mas começa a surgir e ficar mais visível a partir do segundo mês de vida, quando o bebê ainda não tem força para sustentar a cabeça e permanece por longos períodos na mesma posição.

Tipos mais comuns de assimetria craniana

  • Plagiocefalia: É o tipo mais frequente. Caracteriza-se por um achatamento em uma das laterais da parte de trás da cabeça. Isso costuma acontecer quando o bebê prefere sempre virar o rosto para o mesmo lado ao deitar, muitas vezes por conta de um torcicolo congênito. Por isso, em casos mais severos, os olhos, bochechas e as orelhas podem parecer desalinhados.
  • Braquicefalia: Nesse caso, o achatamento ocorre na parte posterior central da cabeça, deixando o crânio mais largo e curto. É comum em bebês que passam muito tempo deitados de costas e pode estar associada a ficar pouco tempo de barriga para baixo, posição que é essencial para o desenvolvimento motor e muscular.
  • Escafocefalia: A cabeça do bebê se apresenta mais alongada e estreita, com as laterais comprimidas. Essa forma é mais comum em bebês que passam longos períodos deitados de lado, o que é menos frequente nas orientações atuais, mas ainda pode acontecer em casos específicos, como internações prolongadas.

Embora sejam diferentes em aparência, essas três formas de assimetria podem estar associadas a limitações motoras e compensações posturais que dificultam o desenvolvimento pleno do bebê. Por isso, mais do que “consertar o formato da cabeça”, o foco do tratamento é restaurar o equilíbrio funcional, melhorar os movimentos, prevenir atrasos no desenvolvimento e garantir conforto ao bebê.

Então, é importante reforçar: em muitos casos, essas alterações são resultado de múltiplos fatores combinados, e o diagnóstico completo precisa considerar todo o histórico gestacional, as preferências posturais do bebê, o tempo em cada posição e outros sinais, como refluxo ou dificuldades na amamentação.

Assimetria craniana e torcicolo: qual a relação?

Um dos maiores erros no tratamento de assimetria craniana é olhar apenas para a cabeça do bebê, sem investigar o que está por trás da alteração. Na maioria dos casos, a assimetria não é uma condição isolada, ela anda de mãos dadas com o torcicolo congênito, e tratar um sem olhar para o outro não é eficaz.

O torcicolo congênito é uma condição em que o bebê apresenta encurtamento ou rigidez de um dos músculos do pescoço. Isso faz com que ele tenha dificuldade para virar a cabeça para um dos lados, preferindo manter-se sempre em uma mesma posição. No entando, essa preferência postural, repetida dia após dia, gera pressão constante sobre um lado da cabeça, levando ao achatamento.

Por isso, ao avaliar um bebê com assimetria craniana, é essencial observar:

  • Se ele tem dificuldade para olhar para um dos lados;
  • Se vira o corpo com facilidade de forma simétrica;
  • Se há desequilíbrios no tônus muscular;
  • Se apresenta atraso em marcos motores, como sustentar a cabeça ou fazer rotação completa do pescoço.

Outro ponto importante: a limitação de movimento não é apenas muscular. Ela pode estar relacionada a desconfortos como refluxo, freio lingual alterado ou dificuldades na amamentação, que impactam diretamente a forma como o bebê se posiciona e interage com o ambiente.

Sem tratar essas causas profundas, qualquer tentativa de correção da assimetria será incompleta, e os resultados podem ser frustrantes. Por isso, um olhar global, que leve em conta o bebê como um todo, é indispensável.

Como identificar os sinais da assimetria craniana

A assimetria craniana nem sempre é percebida logo após o nascimento. Em muitos casos, os primeiros sinais surgem aos poucos, e é comum que pais só notem a diferença no formato da cabeça ao comparar fotos, observar o bebê dormindo ou durante o banho.

Alguns sinais podem indicar que há um desalinhamento craniano que merece atenção:

  • Achatamento visível em um dos lados ou na parte de trás da cabeça;
  • Assimetria nas orelhas, com uma parecendo mais avançada que a outra;
  • Olhos em alturas diferentes ou aparência de um lado do rosto mais proeminente;
  • Preferência postural, quando o bebê sempre vira a cabeça para o mesmo lado;
  • Dificuldade para sustentar a cabeça de forma alinhada;
  • Formato irregular perceptível ao toque (mesmo que discreto visualmente);
  • Em casos mais severos, pode haver também desalinhamento mandibular ou alterações na sucção.

Além desses sinais físicos, também é importante observar o comportamento motor do bebê. Bebês com assimetria e torcicolo podem apresentar atrasos em marcos do desenvolvimento, como rolar, levar as mãos à boca ou ficar de bruços com apoio nos braços (posição de esfinge).

Quanto antes esses sinais forem identificados, melhor. A janela ideal para intervenção está entre 0 e 6 meses de vida, período em que o crânio ainda é bastante maleável. Após essa fase, a resposta ao tratamento pode ser mais lenta e, em alguns casos, será necessário considerar o uso de capacetes (órteses cranianas).

Se você tem dúvidas sobre o formato da cabeça do seu bebê, não hesite em buscar uma avaliação especializada. Em muitos casos, pequenas intervenções feitas no momento certo evitam tratamentos mais complexos no futuro.

O tratamento da assimetria craniana

Ao descobrir que o bebê tem assimetria craniana, é comum surgirem muitas dúvidas e até sentimentos de culpa. Mas é importante reforçar: a condição é comum, tem tratamento e não é responsabilidade dos pais corrigir sozinhos.

O tratamento precisa ser conduzido por um profissional capacitado e especializado, e deve considerar tanto o formato do crânio quanto as causas associadas, como torcicolo, limitações motoras e hábitos posturais. A seguir, explicamos os principais pontos do tratamento e as abordagens baseadas em evidência.

Por que tratar desde cedo?

O crânio do bebê é altamente maleável nos primeiros meses de vida. Isso significa que, até os 6 meses, há uma chance muito maior de reversão espontânea ou com estímulos simples, desde que bem orientados. Após esse período, as suturas cranianas vão se fechando e a correção torna-se mais lenta, exigindo mais sessões e, em alguns casos, o uso de órteses cranianas.

Ou seja, quanto antes iniciar o tratamento, maior a eficácia e menor a complexidade.

O que realmente funciona segundo a ciência

Nenhuma técnica isolada é suficiente. O que traz resultado é a combinação de recursos manuais, exercícios específicos, orientação postural e um olhar integral sobre o desenvolvimento do bebê.

Fisioterapia

A fisioterapia pediátrica especializada é a base do tratamento da assimetria craniana. Através de técnicas manuais suaves, estímulos motores e exercícios terapêuticos, o fisioterapeuta atua para:

  • Corrigir o desalinhamento da cabeça;
  • Tratar o torcicolo;
  • Estimular a força e o tônus muscular;
  • Reorganizar padrões de movimento;
  • Orientar os pais quanto às melhores posturas no dia a dia.

Uma análise de estudos publicados entre 2018 e 2023 concluiu que intervenções fisioterapêuticas, como reposicionamento e alongamentos, são eficazes na correção da assimetria craniana. É importante que o profissional tenha formação específica em bebês, biomecânica e desenvolvimento infantil, pois isso influencia diretamente na qualidade do tratamento.

Osteopatia

A osteopatia pediátrica é uma abordagem complementar, baseada em técnicas manuais que visam liberar tensões sutis no crânio, pescoço e tronco. É bastante indicada em casos onde há fatores intrauterinos associados (compressão, parto difícil, uso de fórceps, etc.), ajudando a restaurar a mobilidade natural do bebê.

Um estudo publicado no Italian Journal of Pediatrics analisou 424 bebês com plagiocefalia posicional e concluiu que apenas cinco sessões de tratamento osteopático nos primeiros meses de vida resultaram em uma redução significativa da assimetria craniana. Os autores sugerem que a osteopatia pode ser considerada uma abordagem de primeira linha para esses casos.

Quiropraxia

Embora menos comum em bebês, a quiropraxia pediátrica pode ser indicada em casos específicos, sob avaliação criteriosa. O foco está em ajustar desalinhamentos que estejam interferindo na mobilidade da coluna e no equilíbrio postural. As técnicas são adaptadas de forma segura, suave e sem estalos agressivos.

Capacetes

O uso de capacetes para assimetria craniana pode ser indicado quando a assimetria é mais severa ou quando não houve resposta satisfatória ao tratamento conservador. Eles funcionam como moldes que vão guiando o crescimento da cabeça para uma forma mais simétrica.

É importante destacar que o capacete não trata o torcicolo nem resolve limitações motoras. Por isso, mesmo nos casos em que ele é indicado, o acompanhamento fisioterapêutico continua sendo essencial para garantir o sucesso do tratamento.

Cuidados essenciais para pais e mães durante o tratamento

Receber o diagnóstico de assimetria craniana pode gerar um turbilhão de emoções: dúvida, culpa, ansiedade e, muitas vezes, medo de errar. Mas a verdade é que ninguém nasce sabendo como cuidar de um bebê com essas necessidades e tudo bem. O papel dos pais não é “consertar” o bebê, mas sim oferecer amor, presença e buscar ajuda especializada.

Durante o tratamento da assimetria craniana, alguns cuidados no dia a dia fazem toda a diferença:

1. Tenha paciência com o processo

A correção do formato da cabeça e das disfunções associadas não acontece da noite para o dia. O tratamento é progressivo, e cada bebê responde em seu tempo. Por isso, confie no acompanhamento profissional e evite comparações.

2. Respeite os limites do seu bebê

Evite forçar posições ou movimentos se o bebê demonstra desconforto. Lembre-se: virar o bebê a cada 10 minutos não resolve se houver uma limitação real de mobilidade. Isso é papel da equipe de saúde.

3. Aposte no tempo de barriga para baixo (tummy time)

Com supervisão e em locais seguros, o tempo de bruços é fundamental para fortalecer o pescoço, ombros e coluna, ajudando a prevenir e tratar a assimetria. Comece com poucos minutos e vá aumentando progressivamente. Você pode conferir melhor como fazer nesse post do Instagram.

4. Varie posições ao longo do dia

Evite manter o bebê por muito tempo em uma única posição ou apoio (bebê conforto, carrinho, moisés). No colo, alterne os lados de apoio da cabeça. Na cama, varie a posição do móbile ou do ponto de luz para estimular a rotação do pescoço.

5. Siga as orientações da fisioterapeuta

O acompanhamento profissional não se limita às sessões na clínica. Por isso, os exercícios, mudanças de postura e observações feitas em casa fazem parte do sucesso do tratamento. A escuta ativa dos pais é parte essencial desse processo.

6. Não se culpe

A assimetria craniana não é causada por “negligência”. Muitas vezes, os fatores estão ligados ao útero apertado, ao tipo de parto ou mesmo a questões estruturais sutis. O mais importante é que agora você está buscando ajuda, e isso muda tudo.

A jornada pode ser desafiadora, mas é também uma oportunidade de se conectar ainda mais com o seu bebê, de observar com mais atenção os detalhes do desenvolvimento e de participar ativamente de cada avanço. Com o suporte certo, o caminho se torna mais leve.

Dra. Jackeline: referência em fisioterapia pediátrica

Olá! Eu sou a Jackeline Segarra, fisioterapeuta (CREFITO 34040-F) e quiropraxista (ABQ 1259), e tenho dedicado minha carreira ao cuidado da coluna, ao desenvolvimento motor infantil e ao bem-estar das famílias que atendo. Minha formação une o melhor da ciência moderna com o conhecimento tradicional, sempre com um único objetivo: oferecer um cuidado completo, respeitoso e eficaz.

Tenho especialização em fisioterapia pediátrica, com foco na avaliação global da criança, no tratamento do torcicolo congênito, assimetria craniana e nas etapas fundamentais do desenvolvimento motor. Já acompanhei dezenas de bebês com assimetrias e sei o quanto esse momento pode ser desafiador para a família. Por isso, meu trabalho vai muito além das técnicas: ele envolve escuta, acolhimento e parceria com os pais em cada etapa do processo.

Na Clínica Vertz, busco constantemente me atualizar, estudar e aperfeiçoar os protocolos para garantir que cada bebê receba o melhor cuidado possível. Se você está passando por esse momento com seu filho, saiba que você não está sozinha e que pode contar comigo para cuidar do seu bebê com atenção, técnica e muito carinho.

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